Escolhas para 2016

Qual refrigerante devo usar para substituir o HCFC-22? Essa parece uma questão muito simples, mas a resposta depende de vários fatores. Na verdade, muitos refrigeristas ainda têm dúvidas quanto ao substituto ideal dessa substância, o que tem gerado acaloradas discussões sobre o assunto em fóruns e grupos profissionais baseados em redes sociais.

Desde o surgimento do Protocolo de Montreal, a necessidade de proteger o meio ambiente tem influenciado diretamente o processo de pesquisa e desenvolvimento de novos fluidos.

Durante a primeira etapa do PBH (Programa Brasileiro de Eliminação dos Hidroclorofluorcarbonos), compreendida entre 2013 e 2015, o País eliminou em 16,6% a importação dos gases do gênero utilizados nos setores de espumas (HCFC-141b) e serviços (HCFC-22).

A segunda fase do programa, compreendida entre 2016 e 2021, foi aprovada em novembro do ano passado na última reunião do Comitê Executivo do Fundo Multilateral do Protocolo de Montreal.

A previsão é que o Brasil receba US$ 35 milhões para apoiar uma transição tecnológica que reduza em 34,96% a importação das substâncias destruidoras de ozônio usadas na manufatura de espumas, no setor de serviços e manufatura de equipamentos de refrigeração e ar condicionado (HCFC-22).

“A partir do momento em que apresentamos o relatório de progresso das atividades e os planos de trabalho, nós vamos recebendo as parcelas desse recurso”, explica a coordenadora de Proteção da Camada de Ozônio do Ministério do Meio Ambiente, Magna Luduvice.

“A tendência é que os substitutos, além de possuírem zero de potencial de destruição da camada de ozônio (ODP, na sigla em inglês), tenham baixo potencial de aquecimento global (GWP, em inglês)”, informa.

Uma ampla variedade de misturas baseadas em hidrofluorcarbonos (HFCs) tem sido disponibilizada pela indústria química mundial como substitutos do R-22: R-404A, R-407A e C; R-417A, R-421A e B; R-422A, B, C e D; R-427A, R-428A, R-434A e o R-438A, dentre outros.v De acordo com o vice-presidente de meio ambiente da Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Condicionado, Ventilação e Aquecimento), Paulo Neulaender, o volume anual de R-22 usado no mercado nacional está em torno de 11 mil toneladas.

“O segmento que mais demanda esse fluido é o de serviços, hoje responsável por 80% do consumo dessa substância”, esclarece, lembrando que o mercado ainda está avaliando diversas alternativas.v Além das substâncias à base de HFCs, as opções para a substituição do R-22 abrangem outros gases, como o dióxido de carbono (CO2), os hidrocarbonetos (HCs) e as hidrofluorolefinas (HFOs).

“Como esses produtos têm características bem diferentes, o mercado está fazendo vários balões de ensaio para avaliar a melhor solução na prática. Contudo, como toda mudança gera dúvidas, é importante buscar informações junto aos fabricantes de fluidos e equipamentos. E o técnico que irá aplicar as novas tecnologias tem de ser bem treinado”, ressalta.

Mercado aquecido

Na avaliação das empresas ouvidas pela Revista do Frio, a segunda etapa do PBH deve aprofundar a nova postura e conscientização do setor em relação à responsabilidade ambiental.

“Além disso, acreditamos que seja uma oportunidade preciosa para a criação de tecnologias mais eficientes e o aperfeiçoamento técnico dos profissionais que precisam se adequar à nova realidade. Portanto, estamos totalmente comprometidos em ser um agente ativo desse processo de inovação, por meio da pesquisa e desenvolvimento de novas soluções mais viáveis e acessíveis ao mercado”, salienta o CEO da RLX Cooling Innovation, Ramon Lumertz.

Segundo o executivo, a empresa brasileira está importando e distribuindo, com exclusividade no mercado nacional, o fluido refrigerante YH222A, um HFC desenvolvido para substituir o R-22 em sistemas de ar condicionado e refrigeração comercial de baixa e média temperaturas. Além de não destruir o ozônio, seu GWP é 46% inferior ao do R-404A.

“A grande vantagem é que ele demanda apenas um retrofit simples e econômico. Não é preciso trocar nenhum componente mecânico e, como esse gás é compatível com todos os tipos de lubrificantes, a troca de óleo não se faz necessária. Além disso, sua eficiência energética e capacidade de refrigeração são muito similares às do R-22, apresentando ainda uma temperatura de descarga do compressor abaixo da do HCFC-22, o que prolonga a vida útil do equipamento”, diz.

Para o empresário, a limitação da importação e comercialização dos HCFCs já reflete na sua disponibilidade nas lojas e no aumento exponencial do seu preço. “Portanto, a busca de novas soluções, mais viáveis e acessíveis, aquece um novo mercado”, afirma.

Segundo o químico Renato Cesquini, gerente de fluorquímicos da Chemours no Brasil (antiga DuPont Refrigerantes), o aumento da população mundial traz novos consumidores, que demandam alimentos mais frescos, ambientes climatizados, transporte refrigerado e condicionamento de ar em seus carros. “E a preocupação com a qualidade ambiental do planeta cresce na mesma proporção”, frisa.

Diante desse cenário, empresas do setor de refrigerantes têm registrado um número cada vez maior de consultas provenientes do varejo, exatamente sobre a substituição dos HCFCs, em especial do R-22, o fluido refrigerante mais aplicado nos supermercados.

“No caso da Chemours, já temos desenvolvido novos produtos”, informa. Durante a última edição da Febrava, a companhia apresentou ao mercado nacional a nova geração de fluidos refrigerantes da marca Opteon, da família das HFOs, que já está disponível comercialmente na Europa, Estados Unidos, Japão, México e, agora, também no Brasil. “Eles possuem características termodinâmicas bastante parecidas com as dos HFCs, mas com baixo GWP”, destaca.

A empresa ainda possui em seu portfólio HFCs compatíveis com óleos OM, AB e POE, o que facilita os procedimentos de retrofit. Há alguns anos, vimos disponibilizando uma linha desses gases para que a rede supermercadista possa realizar a substituição do R-22.

“Mas nossa grande novidade são os produtos HFOs, que possuem características ambientais superiores às dos HFCs e ainda possibilitam, em muitos casos, ganhos em eficiência energética”, diz.

Como exemplo, o especialista cita o Opteon XP10, que substitui o R-134a em sistemas de refrigeração doméstica e comercial, e Opteon XP40, no lugar do R-404A na refrigeração comercial. “Ambos já estão sendo introduzidos no mercado brasileiro para serem testados por usuários finais e, inclusive, em breve, teremos o primeiro supermercado do País utilizando esses fluidos, o que será um marco para o segmento”, antecipa.
 
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