Energia renovável para todos

O mercado de sistemas e equipamentos de aquecimento de água para banho, piscinas, cozinhas e processos industriais pelo calor do sol passou por uma verdadeira revolução nos últimos anos. Em 2014, o parque solar térmico brasileiro atingiu a produção de 7.354 GW/h de energia, a partir de uma área instalada superior a 11 milhões de metros quadrados de coletores.

A expansão dos planos de moradia popular, os programas de redução de consumo de energia e o custo crescente da eletricidade aumentaram a competitividade, assim como a importância do segmento. Outro fator que contribui para a evolução notória do setor é o crescimento da oferta de produtos confiáveis ocasionado, principalmente, pela certificação compulsória do Inmetro (Instituto Nacional de Metrologia, Qualidade e Tecnologia), que recai sobre fabricantes e importadores de sistemas do gênero.

“O setor atravessa um período difícil, devido ao cenário econômico, e somente as empresas que investem em tecnologia de ponta continuarão neste mercado, o que o tornará cada vez mais profissionalizado, para atender o elevado nível de exigência do consumidor”, avalia o coordenador de engenharia e produção da Jelly Fish, Rodolfo Shiro Hashimoto.

E o verão não significa, necessariamente, a época mais propícia para as vendas de coletores solares. “Esse é o período no qual as pessoas menos se preocupam com água aquecida, ou seja, nossa melhor estação é o inverno”, informa.

Contudo, a estação mais quente do ano favorece o comércio de sistemas para piscinas, conforme salienta o gerente comercial da A Atual, Claudiomar Danilo da Silva, lembrando que o mercado brasileiro de aquecedores solares cresceu, em média, 13,8% nos últimos seis anos.

“Incentivos governamentais, como a isenção de ICMS e IPI para os aquecedores solares, e leis municipais de incentivo à aquisição do equipamento também ajudaram o setor a crescer acima do PIB nesse período”, explica.

Segundo o Dasol (Departamento de Aquecimento Solar da Abrava), o mercado brasileiro é composto por cerca de 200 empresas que atuam na fabricação, venda, instalação, projeto, manutenção e consultoria, movimentando cerca de R$ 500 milhões anualmente.

DESBRAVADORES

“O setor tem apresentado crescimento consistente, mas os resultados de 2014 não devem se repetir este ano”, prevê o diretor geral da Enalter, Carlos Artur Alves de Alencar, que começou a desbravar o segmento há 35 anos.

“Somos uma empresa da primeira geração do aquecimento solar no Brasil”, acrescenta o empresário. “Quando começamos, tivemos de desenvolver toda uma cadeia de valor, de forma a organizar todos os processos internamente, incluindo o serviço de vendas, a engenharia do produto, a produção, a engenharia de aplicação, o projeto do sistema, a instalação e a assistência técnica. Assim, nos estruturamos em todos esses elos”, recorda.

Com o passar dos anos, a companhia mineira decidiu manter seu foco nessas competências, a fim de dar suporte aos parceiros e se especializar nos serviços. “Este ano, tivemos 20 mil metros quadrados de coletores em obras contratadas. É um trabalho bem pesado de gerenciamento e execução de projetos”, explica.

Outro desbravador do ramo é o empresário Newton Ferreira, presidente da Astrosol. “Particularmente, atuo no mercado desde 1978, quando havia apenas quatro empresas no Brasil, todas muito pequenas, com menos de seis funcionários ao todo. Fomos os pioneiros comerciais, fazendo da energia solar um negócio, não um campo de pesquisa”, informa.

“Naquela época, tínhamos a Solartherm, do Wolfgang Sauer, na qual eu trabalhava, a Solarcenter, do professor Yura Zoudine, e o Mario Ederich, em Porto Alegre”, relata.

Em função da segunda crise do petróleo, em 1979, houve um aumento significativo de empresas no setor nos anos 1980. “Inclusive, a Astrosol surgiu em 1984”, pontua.

De lá para cá, o número de fabricantes não parou mais de crescer. “No início, as instalações eram, basicamente, residenciais, voltadas para banho e piscina. A tecnologia era cara e a demanda ainda pequena, destinada apenas a moradias de altíssimo padrão”, diz.

Nos 1990, com a estabilidade da moeda, os rumos do setor começaram a mudar. As tecnologias de produção evoluíram e baratearam custos. “Foi a década de ouro para a energia solar térmica no Brasil”, resume.

Segundo Ferreira, com a criação do grupo de fabricantes de equipamentos de energia solar na Abrava, apoiado por universidades, Inmetro, companhias energéticas e outros parceiros, tiveram início os estudos de viabilidade de aplicação em projetos populares.

A experiência embrionária e de grande importância social ocorreu no conjunto habitacional Cingapura, em Santana, na capital paulista. “Com isso, na década de 2000, tivemos milhões de equipamentos vendidos somente para projetos sociais, o que continuou até 2014, sendo agora interrompido pelo momento econômico”.

Mas o que era um sonho nos anos 1980 – vestiários, cozinhas, caldeiras de hotéis e indústrias utilizando coletores solares térmicos –, hoje é realidade.

“E os projetos construtivos modernos já saem contemplados com sistemas solares”, enfatiza.

“Embora nosso setor também sofra com a crise, penso que devamos estar todos confiantes na retomada do crescimento em 2016, pois teremos de atender a demanda que ficou reprimida este ano”, arremata.
 
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