Cenário hidroenergético crítico favorece segmento de controles

Não é de hoje que o mercado mundial de controles tem buscado alternativas para atuar diretamente nas questões mais críticas relacionadas à economia de energia. O setor sempre apostou no desenvolvimento de tecnologias que aumentem o rendimento das instalações de climatização e refrigeração e, ao mesmo tempo, reduzam o consumo energético. Para os sistemas hidrônicos, essa pujante indústria cria dispositivos de última geração que também ajudam a economizar água, recurso cada vez mais escasso no Sudeste do País.

Aliás, o iminente colapso hidroenergético preocupa toda a cadeia produtiva do HVAC-R brasileiro. Em carta aberta à sociedade, a Abrava (Associação Brasileira de Refrigeração, Ar Con-dicionado, Ventilação e Aquecimento) já alertou que o cenário restritivo irá perdurar por longo período. “Estamos muito além de uma circunstancial crise de energia”, enfatiza o documento, assinado pelo Dasol (Departamento de Aquecimento Solar) da entidade.

“Cada vez mais, a economia de água e energia vem se tornando ponto primordial em sistemas prediais de ar condicionado. A demanda pelo controle preciso e a otimização para economizar esses recursos são vistas como oportunidades para alguns fornecedores”, avalia Rodrigo Marques de Sá, engenheiro de vendas da Danfoss.

Para ele, as soluções que antigamente eram tidas como “caras” e dispensáveis hoje são encaradas como bons investimentos, pois proporcionam retorno econômico para o cliente, tanto em obras novas como em retrofits. “Os investidores estão buscando sistemas de climatização e refrigeração mais otimizados, ou seja, que gastem menos e não desperdiçem”, explica.

Por isso, o setor responde a essa necessidade implementando nos controladores todas as inovações e tecnologias de economia e otimização de recursos disponíveis. “Dentre elas, estão as agendas para acionamento e desligamento automático, a redução de carga em horários de baixa demanda, o controle mais racional e inteligente que toma ações em caso de falhas para evitar desperdícios, inversores de frequência e válvulas de expansão elétricas”, exemplifica o engenheiro Fábio Cardoso, diretor da Every Control.

De forma geral, esses instrumentos exercem diversas funções importantes em qualquer instalação predial, como controle de iluminação e temperatura, setpoint econômico, controle do número de partidas de determinados equipamentos e aviso de portas abertas em câmaras frias, entre outras. “Isso faz com que o cliente obtenha uma redução de custos e um sistema com mais desempenho, além de uma qualidade melhor para os produtos frigoríficos armazenados”, ressalta o empresário Antonio Gobbi, diretor da Full Gauge.

De acordo com o diretor comercial da Mercato, Rodrigo Miranda, reduzir o uso de insumos como água e energia passa pelo processo de uma boa medição (leitura) das informações. “Mas é a correta aplicação dos equipamentos e o uso adequado de suas funções que realmente fazem a diferença na redução desses gastos”, salienta o executivo.

Para o engenheiro eletricista Valério Galeazzi, gerente comercial da Novus, a indústria de controles atende rapidamente ao crescimento da demanda mundial por inovações que economizam recursos naturais. “Com os custos mais altos, vários condomínios estão contratando empresas para o monitoramento on-line do consumo de água. Por meio deste tipo de serviço, é possível detectar vazamentos assim que eles começam e não apenas quando chega a conta”, diz.

“O uso de sensores e equipamentos inteligentes interligados em software de gerenciamento específico permite saber rapidamente quando o gasto foge de padrões pré-definidos. Assim, as providências necessárias são tomadas de imediato”, acrescenta.

De olho na crise hídrica que assola diversas partes do País, a indústria de controles também desenvolve produtos flexíveis que se adaptam a qualquer tipo de edificação. “Já temos controladores prediais que automatizam o reaproveitamento da água de um sistema de ar condicionado central para o abastecimento de piscinas”, informa o chefe de produto para automação predial da Schneider Electric, Rogério Garcia Ribeiro.

Expectativas e inovações

Embora os prognósticos para a economia brasileira em 2015 sejam negativos, a maioria dos players do setor de controle e automação consultados pela Revista do Frio se mantém otimista, com muitos esperando crescimento significativo em relação ao ano anterior.

A Belimo entende que a atual situação político-econômica do País pode gerar insegurança entre investidores e também interferir no cronograma de projetos em fase de concepção ou início de execução. “Aliada a isso, temos a crise hídrica e energética, que é mais um ponto desfavorável. Contudo, nossa empresa acredita que pode ajudar o cliente a melhorar seus processos e ainda atingir as metas de economia de água estabelecidas pelo governo”, diz o engenheiro Leandro Medea, consultor regional de aplicação da multinacional suíça no Brasil.

A expansão do varejo de alimentos e bebidas também favorece as empresas do segmento. “A área de refrigeração comercial não é muito vulnerável a crises no curto prazo. Por isso, esperamos crescer 25% este ano, até porque produtos que antes não eram aceitos no mercado nacional hoje estão se tornando quase que obrigatórios, em função da alta dos custos dos serviços”, explica o engenheiro eletricista Alex Taboni, coordenador técnico da italiana Carel.

“Acreditamos que o cenário atual é muito preocupante. Mas, assim como nós, diversas empresas estão fazendo investimentos pesados para que esta situação seja a mais branda possível no processo produtivo”, completa.

Outra indústria que trabalha com perspectivas de crescimento é a Novus. “A demanda por soluções, seja na área de HVAC-R ou de controle predial, ainda é grande. Há um enorme parque de shopping centers, supermercados, condomínios e indústrias precisando economizar água e energia. Ou seja, em época de crise, outras oportunidades batem à porta”, resume o engenheiro eletricista Seber Martinez, gerente de aplicação da empresa brasileira.

“Mesmo diante de perspectivas econômicas ainda piores que as atuais, conquistamos crescimento nas vendas. E a questão da escassez de água e energia elétrica já é uma preocupação constante da nossa empresa há muito tempo”, revela Antonio Gobbi, da Full Gauge.

Enfim, em matéria de inovação tecnológica, o setor desenvolve e comercializa constantemente produtos que se encaixam na atual política de sustentabilidade e preservação de recursos naturais que deve nortear a sociedade moderna, almejando diferenciais tecnológicos voltados às demandas dos empreendimentos locais, com características e legislações específicas do País.

“Se a escassez de água e energia não atingir níveis críticos, os negócios em nosso ramo podem até melhorar, pois será necessário implementar soluções de economia. Mas se chegarmos ao ponto de haver cortes no fornecimento, certamente isso será muito ruim para todos os setores”, pondera Fábio Cardoso, da Every Control.

 
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